É difícil contar uma história realmente emocionante de como arranquei uma semente de aveia selvagem da casca, e depois mais uma, e mais outra e depois mais uma, e então cocei minhas picadas de mosquito, e ouvi meu bebê dizer algo engraçado, e de como fomos ao riacho, bebemos um pouco de água e observamos as salamandras por um tempo, até eu encontrar outro campo de cereais… Não, não se compara, essa minha história não consegue competir com aquela que narra o modo como empurrei minha lança profundamente no flanco branco de um animal titânico peludo, empalei uma enorme presa arrebatadora, que se contorcia gritando, com o sangue jorrando por toda parte em torrentes carmesins, e como um outro caçador foi esmagado como geleia quando o mamute caiu sobre ele, enquanto eu atirava minha infalível flecha diretamente em seu cérebro através de seu olho. (Le Guin, 2020)
Com os materiais evocados, ou seja, momentaneamente disponíveis à manipulação, um segundo problema metodológico se fez presente: como apanhar e transportar o que foi evocado? Esse problema poderia ser descrito também da seguinte forma: como permanecer tempo o suficiente caminhando junto com menstruações, sangue menstrual, experiências de menstruação durante trabalho de campo, produção de conhecimento etc. de modo a ser capaz de se familiarizar com os materiais e contar histórias emocionantes com eles? De saída, sabemos que nossos materiais enfeitiçados são, como no trecho de Le Guin supracitado, parte de um dia a dia tedioso. Sabemos também que a evocação feita é parcial e não é porque conseguimos fazer-falar-aparecer nossos materiais que eles estarão o tempo todo disponíveis para nós. Para apanhar e transportar adequadamente, o primeiro passo é saber de que e como são feitos nossos materiais evocados, para saber do que e como deverá ser o compartimento onde os deixaremos. Portanto, foi necessária a operacionalização de uma ação de coleta.
Ao longo da pesquisa, foi necessário desenvolver uma sensibilidade metodológica que permitisse retirar as histórias e materiais evocados dos seus lugares de origem e transformá-los, a partir de trabalho, em dados de pesquisa. A seguir, aprofundo a proposta de utilização de “cestas” como método de coleta. Também apresento duas ferramentas metodológicas utilizadas ao longo da pesquisa: cestas feitas de tramas vulneráveis e cestas feitas de tramas rabugentas. Ambas as ferramentas responderam ao material evocado, permitindo adotar abordagens mais adequadas diante do que apareceu no caminho.